A minha análise da semana foi cheia de choro. Deixei as lágrimas correrem como há muito tempo não vinham.
Pensei na experiência do luto (na minha) e de como ela se atualiza a cada virada da vida. Esse processo de elaborar a perda de alguém amado não é mesmo algo que tenha um ponto final, ideal e desejado.
O luto se atualiza, se colore com cores novas de vida e a gente vai dando conta do jeito que dá…
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Última sessão da semana, última paciente. Ela chega com olhar entristecido:
– “Pensei muito no meu pai essa semana…”
Esse pai é assunto frequente nas sessões. Tentativa de elaborar o luto de sua morte prematura. É difícil quando se perde alguém assim; difícil não só pela saudade que fica, mas pela memória que se apaga, se a gente não cuida de cultivá-la.
-“Minha irmã teve um bebê. Meu pai agora é avô…”
As lágrimas interrompem a fala, depois de retomar o fôlego, ela continua:
– “Um neto que ele nunca vai conhecer… E eu, nunca saberei como é meu pai avô…”
As lágrimas tomaram a cena, novamente, e nos olhamos pela tela do computador. Nesse momento, me senti especialmente identificada com ela, com sua dor e com a coincidência de nossas lágrimas.
Ela fazia, como eu fiz. Descobria de que o luto nunca termina, que ele apenas se atualiza a cada novo momento de vida, a cada virada que nos torna novos.
Nessas horas a saudade não é só do que se viveu, mas de tudo aquilo que não pôde mais ser vivido!
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É importante reconhecer que o processo de elaboração do luto se atualiza ao longo da vida.
Com a passagem do tempo, luto se torna mais fácil e ao mesmo tempo mais difícil, justamente porque a vida segue!
Aquele que fica, usufrui do tempo: amadurece, cresce, conquistas coisas novas, se transforma como pessoa, se torna outras versões de si mesmo. Por isso, a dor se acalma mas também se atualiza.
Descobre-se então que luto se torna não só saudade do que se viveu, da pessoa que se foi, mas tristeza profunda de tudo o que não pôde ser vivido!