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A confiança

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A vida é mesmo cheia de idas e vindas e mesmo crescidos somos como as crianças que ao aprender a andar, anseiam pelo mundo, se afastam das mãos de suas mães e seguem, passo à frente, orgulhosos de serem capazes de ir para o mundo, para o que há para ser descoberto.

O avanço no entanto não é linear, exige a possibilidade de retornos, sempre que necessário. E retornar significa ter para onde voltar.  Lugar construído como fruto da confiança e previsibilidade.

Se, ao contrário, as companhias se mostram instáveis, se o tal “Porto seguro” se esvai, perde-se parte da segurança de se arriscar na exploração do mundo.

Corre-se o risco de se cair no medo do mundo, na insegurança que restringe, na impossibilidade de descobrir a grandeza do mundo e de suas possibilidades!

Sorte daqueles que tem para onde voltar!

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Isso me fez lembrar de Winnicott (1966) e um recorte lindo de um caso clínico:

“Eu tinha mais ou 02 anos de idade. A família estava na praia. Fui indo pra longe da minha mãe e comecei a fazer descobertas. Achei conchas do mar. Uma delas me conduziu a outra, havia um número ilimitado de conchas. De repente, fiquei com muito medo, e hoje eu posso entender o que aconteceu: fiquei interessada em descobrir o mundo e esqueci de mamãe. Agora entendo que isso ocasionou em mim a ideia de que mamãe havia se esquecido de mim. Dei a volta e sai correndo para mamãe – ela estava lá, talvez a poucos metros. Ela me pegou no colo e deu-se início ao processo de restabelecimento da minha relação com ela. Eu provavelmente parecia não estar interessada nela, porque preciso de um tempo para me sentir restabelecida e me livrar da sensação de pânico. Aí, de repente, mamãe me pôs no chão de novo (…)

Agora sei o que aconteceu. Até agora, passei minha vida em toda esperando ser capaz de alcançar o estágio seguinte – se minha mãe não tivesse me posto no chão, eu teria lhe dado um abraço, e rompido em lágrimas, lágrimas de alegria e felicidade. Do jeito como aconteceu, nunca mais encontrei minha mãe.”

“O importante nesse exemplo é que ele mostra a maneira delicada como que, se tudo vai bem, a confiança da criança no caminho de volta é reconstruída”

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