A criança brinca com a espátula. Primeiro de modo hesitante. Observa-a com atenção, de longe. Depois, mais a vontade, toca a espátula e a explora, excitadamente. A espátula se torna objeto disponível para ser usada, no seu ritmo.
Semelhante, o paciente recém chegado ao consultório.
Ele também nos observa – desde antes de marcar a sessão. Acompanha as postagens no insta, avalia nossos posicionamentos, o estilo de nossa presença, considera as indicações recebidas, os adjetivos que acompanham nosso nome.
Ao entrar no consultório ou na janela do Zoom, observa o ambiente, testa a confiabilidade e a sobrevivência do analista: “Será que ela dá conta do recado?”
Se avançamos de fase, seguiremos em direção à análise propriamente dita, à fase de uso do analista, do setting , do cuidado disponibilizado.
Ficamos juntos por um bom tempo nessa fase. Experimentações são feitas, necessidades são atendidas e o amadurecimento pode ser retomado – um jeito de dizer que a análise facilita que o paciente encontre um jeito mais sustentável de viver a própria vida.
Passado um certo tempo é natural que o momento da despedida se aproxime. Como o bebê que depois de muito explorar, larga a espátula no chão, anunciando o encerramento daquela interação.
Assim também ocorre na análise. Os pacientes comunicam, a necessidade do fim e acolhemos o gesto.
A despedida pode então chegar como mais uma etapa do processo vivido, como comunicação que confirma o trabalho feito, a relação construída e experiência vivida!
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Nas palavras de Masud Khan (1988)
“Despedimos-nos afetuosamente. Sempre me surpreende o fato de que, quando um relacionamento clínico anda bem , nenhum dos dois sofre quando chega ao fim. Naverdade, ele nunca termina. Uma pessoa sai e se afasta dele. Somente quando algo ficou emperrado é que a despedida é sentida por ambos como rejeição. Pelo menos esta é a minha experiência. Conservei a minha afeição e admiração por Lúcia e acredito que ela tenha boas lembranças de mim.” .